Esgoto NÃO é lixo: porque evitar o descarte inadequado de resíduos

Descubra quais são os efeitos negativos gerados quando se descarta resíduos sólidos no sistema de esgotamento sanitário.

20 / 4 / 2020

Hoje em dia existe ampla conscientização sobre a importância de se ter um conjunto de iniciativas de saneamento básico que seja robusto e eficiente. Dentre essas iniciativas, certamente a presença de um sistema de coleta e tratamento de esgoto ganha destaque.

Muito disso se dá pelo fato de que os impactos negativos de quando não se possui um sistema de esgoto – ou quando ele é mal dimensionado – logo surgem. Exemplos são vazamentos, mau cheiro, contaminação do meio ambiente e doenças de veiculação hídrica.

Isso traz à tona um pensamento importante: a simples existência de um sistema para coleta e tratamento de esgoto por si só não é suficiente, uma vez que o mal uso pode prejudicar seu funcionamento.

É de suma importância, sim, que o poder público, em conjunto com a iniciativa privada, desenvolvam medidas e políticas de saneamento que visem a estruturação e manutenção de sistemas de coleta e tratamento de esgoto. Contudo, é também verdade que a eficácia desse tratamento depende muito das rotinas dos usuários desses sistemas.

Isso significa que se trata também de uma questão da consciência coletiva em relação ao que é necessário para garantir que essas medidas de coleta e tratamento continuem operando da melhor maneira possível, beneficiando a todos com melhores resultados.

Resíduos líquidos X sólidos

A estrutura das redes de coleta e tratamento de esgoto foram desenvolvidas em condições de absorverem basicamente resíduos líquidos e, minimamente resíduos sólidos de alta biodegradabilidade, por isso o descarte deve ser adequado caso contrário cria-se um cenário de perda de eficiência no tratamento ou entupimentos e graves problemas estruturais.

 

 

Colocando em termos práticos, isso consiste no fato de que não se pode tratar o esgoto como meio de descarte para o lixo comum produzido no dia a dia. E essa a lista de materiais perigosos para o sistema de tratamento de esgoto é extensa.

Os grandes causadores de problemas são os materiais que não se dissolvem facilmente na água (plásticos e outros sintéticos, por exemplo), que justamente por essa característica ficam presos nos canos, durante o deslocamento.

A seguir listamos alguns dos principais causadores de problemas e como lidar com eles:

Óleos em geral

Já ouviu falar que água e óleo não se misturam? Por mais que substâncias oleosas não sejam necessariamente sólidas, por serem gordurosas elas figuram entre as principais “inimigas” dos sistemas de esgoto, facilmente se fixando nos encanamentos e podendo obstruí-los parcial ou completamente.

A instrução de descarte para esse tipo de material é armazená-lo em garrafas PET e buscar empresas ou pessoas que façam sua reciclagem, transformando esse óleo em sabão de ótima qualidade.

Ainda, se puder, instale uma caixa de gordura na pia de sua cozinha, pois ela auxilia na retenção dos resíduos gordurosos que, sem ela, iriam para a rede de esgoto. Lembre-se, porém, de periodicamente (a cada 6 meses, aproximadamente) realizar a limpeza e a manutenção da mesma para garantir que continue funcionando da maneira correta.

Pelos e fios de cabelo

É muito comum que pelos e fios de cabelo se acumulem principalmente nos ralos de onde se toma banho. Entretanto, por mais que seja tentador deixar que a corrente de água leve-os para o descarte, eles também podem causar problemas de obstrução na tubulação. O correto é juntá-los e descartá-los na lixeira (nunca no vaso sanitário).

Cotonetes e algodões

Cotonetes e algodões também são prejudiciais ao sistema de tratamento de esgoto. Além do plástico que não se dissolve na água (no caso dos cotonetes), o algodão pode se juntar a qualquer gordura presente e entupir o encanamento.

Sua destinação deve ser dada nas lixeiras para resíduos sólidos.

Bitucas de cigarro e cinzas

Algumas pessoas podem achar que não, mas o papel presente no cigarro dificilmente consegue se dissolver no sistema de esgoto. Pior que isso, cinzas de todo tipo também podem se juntar a óleos e gorduras e contribuir com o entupimento.

Sua destinação deve ser dada nas lixeiras para resíduos sólidos.

Absorventes e preservativos

Seja no caso de preservativos feitos comumente com látex ou poliuretano (substâncias que não se dissolvem na água) ou absorventes femininos, esses são resíduos que de maneira alguma devem ser descartados por meio da rede de coleta de esgoto (através do vaso sanitário, por exemplo). Além de aumentarem o risco de obstrução, também são uma ameaça à saúde podendo transportar doenças.

Sua destinação deve ser dada nas lixeiras para resíduos sólidos.

Tintas, vernizes e solventes

Entupimentos e problemas estruturais não são os únicos problemas que podem surgir com o descarte indevido de resíduos no sistema de esgoto. Tintas, vernizes e solventes são exemplos de substâncias que, por terem diversos componentes químicos, podem também contaminar os rios caso sejam descartados por meio da rede de coleta, colocando a saúde de inúmeras pessoas em risco.

Esses resíduos são considerados perigosos ao meio ambiente e sua destinação deve ser dada de forma consciente para empresas que façam seu tratamento de forma correta.

Farinha, borra de café e similares

Existe um mito popular de que a borra de café ajuda a desentupir o encanamento de forma natural. A verdade, no entanto, é o oposto. 

O café moído, após entrar em contato com a água quente, libera muitos óleos, que são justamente o tipo de substância que você não deve descartar na rede de esgoto. 

O mesmo vale para farinhas e qualquer outro tipo de material moído, pois esses também podem se juntar a todo tipo de gordura que houver no encanamento e ocasionar um entupimento.

A destinação adequada a estes tipos de resíduos é o seu descarte nas lixeiras para resíduos sólidos.

Como você pode contribuir com o saneamento

Diante de todos esses casos apresentados anteriormente, é importante compreender que, por mais que o Estado e concessionárias privadas de saneamento sejam responsáveis pelos sistemas de tratamento do esgoto, o correto descarte dos resíduos é de responsabilidade individual daquele que o gerou.

É preciso que cada um, em sua consciência, perceba a importância do seu papel para garantir o correto funcionamento do sistema de saneamento da sua comunidade, cultivando boas práticas para que o sistema seja preservado.

Caso isso não seja seguido, os potenciais danos causados podem se materializar na forma de vazamentos (que por sua vez podem gerar doenças e insalubridade para comunidades inteiras) e prejuízos estruturais que precisarão ser sanados, demandando investimento que poderia ser aplicado em outras políticas públicas.

 

 

Por esses motivos, na próxima vez que você pensar em utilizar a rede hidráulica como um meio para o descarte de resíduos sólidos, lembre-se de todos os efeitos negativos que podem ser desencadeados e mude sua atitude. Da mesma forma, se vir alguém prestes a fazer isso, faça sua parte e ajude essa pessoa a se conscientizar dos efeitos dessa ação.

Mais que uma questão de simplesmente manter o sistema de esgoto funcionando adequadamente e evitar prejuízos financeiros, essa é uma questão de saúde pública e que impacta na qualidade de vida das pessoas.